Auschwitz, Polónia | Auschwitz I e Auschwitz-Birkenau

Visitar o mais conhecido Campo de Concentração Nazi era algo que queria fazer desde que o tema da Segunda Guerra Mundial começou a despertar a minha atenção nas aulas de História. Foi, em retrospetiva, a visita que mais emoções despertou em mim e o local mais sombrio e desgastante emocionalmente que visitei. Podemos ver todos os filmes, documentários, fotografias, ler todos os livros sobre os Campos de Concentração, e acredito que existam muitos, que nada nos prepara para aquilo que vamos ver, ouvir e sentir. Já imaginaram se fossemos nós a lutar pela sobrevivência naquele local em plena Guerra? Eu não consigo imaginar. O frio, o calor, o cansaço que sentimos nas nossas confortáveis roupas e calçado após várias horas a caminhar passam a ser comparados com aquilo que sentiríamos se estivéssemos esfomeados, com sapatos de madeira e vestidos com um pijama às riscas, de tecido fino e velho, a enfrentar temperaturas de 30ºC ou de -30ºC.

Eu optei por visitar os Campos com guia e, tive a sorte de estar num grupo que respeitou o local onde nos encontrávamos. Acredito que este fator, aliado à forma como a nossa guia nos apresentou a História, determinou de forma muito positiva a experiência que ali tivemos e fez com que a mesma, pelo menos para mim, fosse bem marcante.

O nó na garganta e o estômago revolto começou a sentir-se quando nos começámos a aproximar do famoso portão com a inscrição "Arbeit macht frei" - "O trabalho liberta", em português -, onde em relação a esta há um facto curioso. É que o B foi colocado propositadamente de pernas para o ar por um prisioneiro, de forma a demonstrar a sua revolta e a infeliz ironia que aquela frase carregava.

A visita completa inclui os dois Campos de Concentração - Auschwitz I e Birkenau - onde o primeiro a certa altura era apenas para uso administrativo e o segundo foi construído apenas com a intenção de exterminar milhões de pessoas. E ali estamos frente-a-frente com um dos capítulos mais negros da História. Os números passam a ter um rosto e um nome, também ficamos a saber que apenas uma percentagem, cerca de 25%, das pessoas que chegavam ao campo era registadas e tatuadas, sendo que muitas das que chegavam eram imediatamente levadas para as câmaras de gás, e que três mil foram os portugueses que ali morreram durante o tempo em que o campo esteve em funcionamento.

É difícil olhar para aquelas paredes cheias de fotografias e para outras tantas que abrigam toneladas de cabelo, roupa, sapatos, óculos, e outros objetos pessoais de imensas famílias, de homens e mulheres, de crianças, de bebés... É difícil olhar para os números e perceber que talvez o número estimado seja bem menor que o real. É difícil perceber como é que estas atrocidades aconteceram e não foi assim há tanto tempo. É impossível ficar indiferente, é impossível não sentir um misto de sentimentos que andam entre a revolta, a tristeza, a indignação. Não consigo lembrar-me de um momento que considerasse leviano, mas de tudo o que ali vi, uma coisa me incomodou mais do que tudo: a única câmara de gás que é possível visitar, as marcas feitas nas paredes de cimento por quem ali morreu, em desespero a lutar pela vida.

Continuo a defender que este local deveria ser visitado por todos, primeiro porque com o passar do tempo, a humanidade tende a esquecer os erros do passado e segundo porque atravessamos um momento onde, pelo mundo inteiro, a extrema direita começa a ganhar uma nova força e isto é preocupante. Auschwitz é o local onde se pode ver tudo o que o ser humano já fez de pior, mas o contrário também é possível. Podemos ali sentir a coragem daqueles que ali foram prisioneiros, daqueles que sobreviveram, dos que deram a vida para salvar outros.






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